Data: 17/03/2025
Segundo o Agrostat (Estatísticas de Comércio Exterior do Agronegócio Brasileiro), nos primeiros três meses de 2024, o Brasil exportou mais de 12 mil toneladas de pescado para cerca de 90 países, gerando receitas de US$ 193 milhões. Apenas esse valor representa um aumento superior a 160% em relação ao mesmo período do ano anterior, sugerindo assim a produção aquicultura para o comércio exterior brasileiro.
Além da expansão da produção e das exportações, a aquicultura enfrenta desafios estratégicos que impulsionam a adoção de tecnologias avançadas, o aprimoramento da nutrição animal e a busca por sistemas produtivos mais eficientes e sustentáveis. O avanço de práticas como a aquaponia, os sistemas de recirculação de água (RAS) e o cultivo em bioflocos (BFT) tem sido um diferencial para melhorar a qualidade da água e otimizar o desempenho produtivo, minimizando impactos ambientais.
Para reforçar a necessidade de um modelo de aquicultura que equilibre produtividade e preservação ambiental, a FAO tem defendido o conceito de Transformação Azul. No Brasil, esse movimento ganha força com a adoção de novas tecnologias e práticas que garantem eficiência produtiva sem comprometer os recursos naturais.
Neste artigo, analisamos as tendências do setor para 2025, explorando os avanços esperados no manejo, na formulação de dietas balanceadas e no compromisso da BRF Ingredients com o desenvolvimento de soluções inovadoras que contribuem para a evolução do mercado aquícola.
Tópicos:
- ● Panorama do mercado da aquicultura e possíveis progressões
- ● Tecnologia como suporte para produção da aquicultura
- ● Alternativas sustentáveis como foco
- ● Cuidado com a qualidade da água durante o processo de produção
- ● Estratégias essenciais para potencializar a saúde e o crescimento dos animais
- ● Portfólio da BRF Ingredients com o mercado de aquicultura
Panorama do mercado da aquicultura e possíveis progressões
A aquicultura continua sua trajetória de crescimento global, impulsionada pela demanda por proteína animal e pelo desenvolvimento de novos mercados consumidores.
Segundo previsões do relatório da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) sobre o setor, estima-se que o Brasil deve registrar um crescimento de 104% na produção da pesca e aquicultura até 2025.
No Brasil, a produção nacional de pescado se fortalece como um dos segmentos mais promissores do agronegócio, tornando-se 4º maior produtor mundial de tilápia. O crescimento das exportações e a diversificação de espécies cultivadas abrem novas oportunidades para produtores e investidores. Em contrapartida, entre os mercados em destaque estão Estados Unidos, China e Oriente Médio.
Para fortalecer a preservação dos recursos hídricos e garantir um modelo de produção mais equilibrado, a adoção de práticas sustentáveis tem se tornado essencial na aquicultura, como o projeto de Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, especialmente o ODS 14 – Vida na Água.
Nesse contexto, iniciativas alinhadas ao Guia para Aquicultura Sustentável da FAO incluem pilares como governança e planejamento, uso sustentável do recurso, ecossistema e manejo produtivo, responsabilidade social e equidade de gênero, além de cadeias de valor sustentáveis e acesso a mercados.
A integração destes princípios visa promover uma produção mais eficiente, reduzindo impactos ambientais e atendendo às crescentes exigências do mercado global.
Diante desse cenário, a otimização das cadeias produtivas, atenção à sustentabilidade e movimentação tecnológica se tornam pilares essenciais para garantir eficiência e qualidade na produção aquícola. Por exemplo, a adoção de novos modelos de cultivo e a utilização de ingredientes nutricionais alternativos são estratégias que ganham força para atender à demanda global de forma mais eficiente e equilibrada.
Tecnologia como suporte para produção da aquicultura
A aplicação de tecnologia na aquicultura tem se intensificado nos últimos anos, reforçando a importância de sistemas inovadores que aumentam a produtividade e melhoram as condições sanitárias dos cultivos, reduzindo a dependência de recursos naturais.
O Sistema de Cultivo em Bioflocos (BFT - Biofloc Technology System) apresenta uma alternativa viável para otimizar a qualidade da água, reduzir a necessidade de renovação hídrica e fortalecer a biossegurança nos cultivos.
Conhecido também como ZEAH (Zero Exchange, Aerobic, Heterotrophic culture system), o BFT promove a formação de flocos microbianos, compostos por bactérias, protozoários e microalgas que auxiliam na assimilação de compostos nitrogenados, como amônia e nitrito, reduzindo sua toxicidade no meio de cultivo (Schryver et al., 2008).
Durante o processo, a estabilidade do sistema ocorre por meio da ação de bactérias heterotróficas e autotróficas, que convertem resíduos orgânicos em biomassa microbiana, contribuindo para a saúde dos organismos cultivados.
Além de minimizar a emissão de efluentes e otimizar a conversão alimentar, o BFT permite cultivos em alta densidade sem necessidade de trocas constantes de água, tornando-se uma solução sustentável para regiões com restrição hídrica e altos custos operacionais.
Por essas características, sua adoção tem se expandido globalmente, especialmente onde há restrição no uso da água, baixa disponibilidade hídrica ou custos elevados de terras para expansão (Wasielesky et al., 2006).
Alternativas sustentáveis como foco
A sustentabilidade na aquicultura segue como uma pauta central no setor, impulsionando mudanças em modelos produtivos e estratégias de manejo.
Entre as alternativas viáveis, o Sistema de Cultivo em Bioflocos (BFT) já demonstrou eficiência na redução da emissão de efluentes e na reutilização de compostos nitrogenados.
No entanto, outras soluções, como os Sistemas de Recirculação de Água (RAS) e a aquaponia, têm ganhado espaço como estratégias para fortalecer a segurança hídrica e produtiva.
O Sistema de Recirculação de Água (RAS) foi desenvolvido para garantir um ambiente mais controlado e de alta biossegurança, sendo indicado para o cultivo de peixes redondos, tilápias e camarões de água doce.
Ele funciona por meio da reutilização da água tratada, que passa por um sistema de filtragem mecânica e biológica, removendo resíduos sólidos, como fezes e restos de ração, e evitando o acúmulo de compostos nitrogenados tóxicos, como a amônia (Lima et al., 2015).
Além disso, trata-se de um sistema fechado, que ocupa menos espaço em comparação com os métodos tradicionais e reduz o risco de fuga de organismos cultivados, facilitando o monitoramento sanitário dos animais (Ferri et al., 2018).
Outra abordagem sustentável é a aquaponia, que integra aquicultura e hidroponia, utilizando os resíduos metabólicos dos peixes como nutrientes para o crescimento de plantas.
Essa abordagem reduz a necessidade de fertilizantes sintéticos, melhora a qualidade da água e minimiza os impactos ambientais. De acordo com Scaglione et al. (2017), a aquaponia apresenta vantagens expressivas sobre os sistemas tradicionais de produção, como reutilização da água, eficiência produtiva, sustentabilidade ecológica e otimização de recursos.
Por fim, outra estratégia inovadora que vem ganhando espaço na aquicultura sustentável é a Aquicultura Multitrófica Integrada (IMTA), que combina diferentes espécies aquáticas e terrestres no mesmo sistema produtivo, permitindo o reaproveitamento de nutrientes e reduzindo a dependência de insumos externos. Além de otimizar o uso dos recursos naturais, o IMTA melhora a resiliência ambiental dos cultivos e promove uma maior diversificação produtiva.
Podemos considerar que a incorporação dessas tecnologias demonstra que a sustentabilidade na aquicultura depende de soluções inovadoras, que otimizam o uso dos recursos hídricos e garantem um cultivo mais eficiente e ambientalmente equilibrado.
Cuidado com a qualidade da água durante o processo de produção
A carcinicultura convencional, por exemplo, depende da troca contínua de água durante a engorda dos camarões para evitar acúmulo de compostos tóxicos e manter o equilíbrio do sistema (Burford et al., 2003).
Neste contexto, na piscicultura, a água é a principal matéria-prima do cultivo, e parâmetros como pH, dureza, concentração de amônia, nitrito e nitrato devem ser constantemente monitorados para garantir um ambiente adequado ao crescimento dos animais (Leira et al., 2017).
Sendo assim, o controle rigoroso desses fatores permite reduzir riscos sanitários, melhorar a conversão alimentar e otimizar o desenvolvimento das espécies cultivadas. Como solução, o monitoramento contínuo da qualidade hídrica tem sido facilitado por avanços tecnológicos, como a Sonda Acqua Probe", desenvolvida pela Embrapa.
Esse equipamento permite a medição em tempo real de parâmetros essenciais, como oxigênio dissolvido, pH e temperatura, viabilizando ajustes imediatos na gestão dos cultivos.
Estratégias essenciais para potencializar a saúde e o crescimento dos animais
Entre as inovações na formulação de dietas para aquicultura, os hidrolisados proteicos têm sido amplamente estudados. Esses ingredientes são obtidos a partir da hidrólise enzimática, um processo que promove a quebra das proteínas em aminoácidos livres e peptídeos de diferentes tamanhos, melhorando sua digestibilidade e tornando-os uma alternativa viável para a substituição parcial da farinha de peixe nas rações comerciais (Fries et al., 2011).
A utilização destes hidrolisados em dietas para peixes tem sido associada a efeitos positivos na eficiência alimentar, pois a liberação de compostos nitrogenados de baixo peso molecular estimula a atratividade e a palatabilidade dos alimentos, influenciando o comportamento alimentar das espécies cultivadas (Broggi et al., 2017; Alves et al., 2020; Oliveira et al., 2022).
Mesmo em níveis reduzidos de inclusão, essas proteínas hidrolisadas demonstraram melhorias no crescimento, na digestibilidade e na resposta imunológica em fases iniciais de diversas espécies de peixes (Chotikachinda et al., 2013; Srichanun et al., 2014; Silva et al., 2017; Alves et al., 2020; Oliveira et al., 2022).
Podemos perceber que a inclusão de hidrolisados proteicos impacta diretamente os parâmetros zootécnicos dos peixes, com destaque na na taxa de conversão alimentar e na eficiência proteica. Experimentos realizados com tambacu demonstram que diferentes níveis de inclusão de hidrolisado proteico de penas aumentaram o consumo de ração e melhoraram os índices de palatabilidade, especialmente nos tratamentos com maior inclusão de Proteína Hidrolisada (Santos et al., 2022).
Portfólio da BRF Ingredients com o mercado de aquicultura
Para auxiliar nesses avanços, a BRF Ingredients tem desenvolvido um portfólio que alia alta digestibilidade e funcionalidade nutricional, promovendo um suporte eficiente à nutrição aquícola de forma sustentável e tecnicamente otimizada.
Veja algumas vantagens destes portfólio:
BioActio Efficiency
Dentre as soluções desenvolvidas, BioActio Efficiency tem sido aplicado na formulação de dietas aquícolas para maximizar o ganho de peso e otimizar a conversão alimentar. Estudos, em parceria com a Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE), conduzidos com tilápias indicam que sua inclusão nas dietas proporcionou um crescimento 47% superior na fase de pós-larva, enquanto os alevinos apresentaram um aumento de 25% no peso final.
BioActio Health & Performance
Seu perfil de peptídeos bioativos funcionais auxilia na resistência imunológica dos animais, melhora a eficiência alimentar e proporciona uma resposta superior a condições adversas no cultivo.
Em avaliações realizadas com camarões e tilápias, a inclusão do ingrediente na dieta resultou em uma redução de 39,1% na conversão alimentar, garantindo um aproveitamento mais eficiente dos nutrientes. Além disso, a taxa de sobrevivência na fase pós-larva foi 12% maior do que no grupo controle, demonstrando seu impacto positivo na saúde e na longevidade dos cultivos.
Outro aspecto relevante é a palatabilidade da ração, fator determinante para a aceitação alimentar. Para auxiliar neste contexto, estudos indicam que a inclusão de 5% do BioActio Health & Performance na formulação resultou em um aumento de 10,82% na atratividade da ração, reduzindo rejeições e melhorando o consumo voluntário dos animais.
Além dos benefícios nutricionais, os produtos da BRF Ingredients contribuem para um modelo produtivo mais sustentável, eficiente e alinhado à economia circular, porque seu processo de fabricação aproveita coprodutos da cadeia integrada da BRF, garantindo um melhor uso dos recursos e reduzindo desperdícios.
Considerações finais
Cada vez mais, a aquicultura se fortalece como um setor estratégico economicamente, impulsionado pelas alternativas viáveis para melhorar o aproveitamento dos recursos hídricos e reduzir impactos ambientais, além das demandas por proteínas de qualidade e pelo aprimoramento de tecnologias aplicadas à produção.
O avanço na formulação de rações, a diversificação de ingredientes e o compromisso com processos mais eficientes são fatores que influenciam diretamente o desempenho do setor.
Os hidrolisados proteicos surgem como alternativas funcionais para a nutrição aquícola, garantindo melhor aproveitamento dos nutrientes e contribuindo para a saúde e a resistência dos animais cultivados. Como atuante em Animal Nutrition, a BRF Ingredients acompanha essas evoluções com um portfólio voltado para a alta performance zootécnica, a otimização da conversão alimentar e a redução da dependência de insumos tradicionais.
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